Para melhorar a sua performance, os atletas usam treinos com carga progressiva, buscando a superação de seus tempos. Porém há um limite. A partir de um certo ponto o aumento de carga e da intensidade não vai trazer melhora de rendimento, vai causar prejuízo no desempenho. O Overtraining está relacionado ao excesso de treinamento e ocorre quando o exercício é intenso e/ou extenso demais e o descanso é inadequado entre uma sessão e outra, ou devido dieta pobre em nutrientes que auxiliariam na recuperação muscular ou outros aspectos da rotina diária.
O overtraining ou sobretreinamento, segundo Noce et al. (2011, p. 397), “é um sintoma de instabilidade psicofisiológico prejudicial à saúde física e mental dos atletas que ocorre devido ao desequilíbrio entre o estresse (carga de treinamento) e os períodos de recuperação (descanso das atividades esportivas).”
Os sintomas do sobretreinamento, de acordo com Alves, Costa e Samulski (2006, p. 291), “podem manifestar-se por queda no desempenho, fadiga crônica, infecções respiratórias e alterações do humor.” Além disso, para Oliveira, Cunha e Ribeiro (2006, p. 297), entre os sintomas do overtraining podem estar:
[…] lesão e fraqueza muscular, ativação das citosinas, mudanças hormonais e hematológicas, alterações no humor, depressão psicológica e problemas nutricionais que podem causar diminuição do apetite e diarréia.
O overtraining também é conhecido como a Síndrome do Excesso de Treinamento (SET) e caracteriza-se, justamente, por grandes volumes de treino com intensidade moderada a intensa e recuperação insuficiente. O sobretreinamento ou supertreinamento é amplamente difundido nos esportes de alto rendimento, entretanto, são encontrados poucos estudos em praticantes de musculação sem fins competitivos.
A síndrome do excesso de treinamento tem uma grande relevância no âmbito esportivo, principalmente no que se refere a atletas de elite que buscam superar seus limites e àqueles que se submetem à prática de atividade física sem orientação especializada. (ROHLFS et al., 2008, p. 176)
Em atletas de alto nível, que participam seguidamente de competições, que têm treinos constantes, volumosos e com altas intensidades, o monitoramento das cargas é rigoroso e planejado de acordo com a fase competitiva em que o atleta se encontra. Esses atletas participam, geralmente, de uma ampla estratégia de monitoramento dos níveis de estresse e recuperação com um grupo multiprofissional composto por treinadores, fisioterapeutas, nutricionistas e médicos. Em contrapartida, muitos dos praticantes de musculação treinam de forma independente sem ter o mínimo controle de suas cargas de treinamento e períodos de recuperação e acabam por colocar a sua saúde mental, física e social em risco. Por isso, deve-se ficar atento, pois:
Exercícios físicos associados a uma dieta balanceada são importantes fatores para a promoção da saúde. Contudo, a realização de exercícios físicos intensos e prolongados ou de caráter exaustivo pode promover inflamação crônica, overtraining e maior susceptibilidade a infecções. (PETRY, 2003, p. 1071)
Para Alves, Costa e Samulski (2006, p. 294),”a diminuição do desempenho prolongado, lesão, doença, retirada prematura do esporte e comprometimento da qualidade de vida do atleta são efeitos nocivos prováveis na ocorrência do supertreinamento e, neste caso, a prevenção torna-se a meta principal”, por isso é importante haver o controle do treino, a periodização das cargas e diálogo com o atleta, pois depois de instalada a síndrome o seu tratamento é bem complexo e multifatorial.
Dessa forma, fica ainda mais evidente o risco que os indivíduos desavisados correm ao treinar exaustivamente em busca de um corpo perfeito desconsiderando os seus próprios limites. Essas pessoas, infelizmente, desconhecem os princípios do treinamento físico e crêem que passando horas na academia se enquadrarão no tão almejado padrão de beleza que é praticamente inatingível para a grande maioria das pessoas; logo, o monitoramento das cargas de treino é imprescindível para uma periodização adequada.
Para Costa e Samulski (2005) as cargas de treinamento físico têm aumentado significativamente nos últimos anos na busca de melhores desempenhos de atletas em diferentes modalidades esportivas. Com isso, espera-se que os resultados em desempenho sejam melhores, mas consequentemente aumenta-se os riscos de saturação física e mental e overtraining.
Para Burini, Oliveira e Burini (2010, p. 388)
A elevada carga de treino é geralmente acompanhada de discreta fadiga e reduções agudas no desempenho, mas caso acompanhada de períodos apropriados de recuperação, resulta em supercompensação metabólica ao treinamento, refletida como aumento na capacidade aeróbica e/ou força muscular. Visto como contínuo, os processos de intensificação do treinamento e o estresse relacionado à supercompensação, o aumento da sobrecarga ou do estresse poderá, em algum momento, acarretar a quebra da homeostase e a queda temporária da função […]. Quando a sobrecarga excessiva de treinamento é combinada com recuperação inadequada há instalação do estado de supratreinamento […]. A forma crônica de desadaptação fisiológica ao treinamento físico é chamada de síndrome do supertreinamento (OTS). A própria expressão da síndrome denota a etiologia multifatorial do estado e reconhece que o exercício não é necessariamente seu único fator causal. O diagnóstico de OTS é baseado na recuperação ou não do desempenho.
Portanto, o excesso de treinamento pode estar num estágio tão avançado que o indivíduo nem consiga mais manter a sua rotina de treino, visto que conforme a gravidade da síndrome aumenta, mais difícil é para o indivíduo suportar o seu treino. Por isso, para Castro e Catib (2014), nem sempre um ‘corpo bonito’ significa um ‘corpo saudável’, dessa forma cada um deve buscar o melhor para a sua saúde e se
desprender dos padrões de beleza, pois a forte relação que o exercício físico tinha com a saúde ficou em segundo plano, e passou a relacionar-se fortemente com a estética corporal.
Por: Fábio Ricardo